segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Crise afeta lixo reciclável e preocupa catadores

O efeito avassalador da crise no mercado financeiro global, que começou na maior economia do planeta, os Estados Unidos, chegou à base da pirâmide social. Os catadores de materiais recicláveis da região deverão passar o pior Natal dos últimos anos. O preço dos reciclados caiu quase pela metade nos últimos três meses.

O catador Pedro Martins, 64, está desolado. Sem condições de exercer outra atividade, acompanhado pelo filho Gilberto, 33, viu neste trabalho a chance de aumentar a renda, composta apenas pela aposentadoria de um salário mínimo da mulher, Otília. "Um mês pelo outro, eu tirava uns R$ 300,00. Agora o preço caiu. O que a gente cata não tem valor", diz. Ele comenta que passou a ganhar menos de R$ 200,00. Seu Pedro não sabe o que vai fazer. "Em casa não tem mais nada que a gente possa cortar pra economizar", comenta, ressaltando que deve passar um final de ano difícil.

A vizinha dele no bairro São Pedro, Rosa Barbosa, também se preocupa. Aos sábados e domingos, o marido e o filho viram catadores para juntar o extra ao salário fixo que recebem trabalhando empregados. "Ajudava bastante, agora não dá mais nada?, diz ela. A empresa de recicláveis onde seu Pedro e cerca de outros 200 catadores entregam o material que recolhem de sol a sol, também sofre com a queda nos preços. Pelo menos dois dos 15 funcionários devem ser demitidos. Quando vamos entregar só nos dizem que baixou e pagam menos", diz a proprietária Paula Viviane de Melo Eusébio.

O papel sofreu duas baixas em dois meses. De R$ 0,20 o quilo, caiu para R$ 0,18 e agora está em R$ 0,10. O alumínio que Paula comprava por R$ 2.50 o quilo dos catadores, agora não sai por mais de R$ 1,50. "Eu fico triste porque sei que eles passam trabalho pra recolher, mas não posso fazer nada", explica a empresária. Apenas o plástico por enquanto vem tendo o preço mantido, de R$ 0,30 o quilo.

Em Araranguá, a única informação repassada pela cooperativa de reciclagem é que o papel está sendo estocado a espera de melhor preço. Embora teoricamente sejam donos do negócio, os trabalhadores não podem dar informações e o presidente, Valdelir Cisconeto, que trabalha na Câmara de Vereadores, foi procurado várias vezes, mas não retornou as ligações.

Seria o preço do dólar que estaria atingindo diretamente o bolso dos catadores de lixo em todo o país. Produtos como alumínio, papel e plásticos estão valendo, em média, 40% menos porque com o dólar barato, as indústrias aumentaram as compras de matéria-prima de fornecedores de outros países. O preço da sucata cai porque as fábricas de embalagens de papelão, vidro e plástico passaram a importar componentes em vez de comprar material reciclado no Brasil.


Fonte: Renata Angeloni/ Correio do Sul.

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